(…)
Calçados: maior exportador e importador mundial
(…) a China é o maior produtor, exportador e importador mundial de calçados.
Segundo José Mário Antunes, “quase metade do mercado mundial de calçados é de responsabilidade da China. Mas a produção calçadista no país asiático vem diminuindo nos últimos anos porque o governo chinês tem uma política de desenvolvimento industrial que privilegia os setores de tecnologia intensiva, como a indústria de semicondutores, em que o país é muito dependente, as indústrias de inteligência artificial, telecomunicações, IOT (Internet das Coisas). Com a implantação dessa política seletiva, a China tem exportado suas indústrias têxteis e de calçados para países do Sudeste Asiático”.
A transferência da produção de calçados para países vizinhos como o Vietnã e Malásia é facilmente perceptível na medida em que os dados do comércio exterior chinês mostram uma forte alta nas importações de calçados desses e de outros países: “desde 2015 essas importações dobraram e um país como a Indonésia passou a figurar entre os grandes exportadores. O Vietnã sempre foi um grande exportador de calçados para a China mas a Indonésia somente passou a ocupar posição de destaque em 2017. Outros grandes exportadores são Hong Kong, através de uma manobra pela qual a China exporta o produto para Hong Kong e depois importa de volta por uma questão tributária. Outro destaque são os Estados Unidos, o quinto exportador de calçados para a China”.
De acordo com o executivo do InvesteSP, o Brasil não figura na lista dos grandes exportadores de calçados para a China, mas tem espaços a explorar no maior consumidor mundial do produto, à frente dos EUA e do próprio Brasil. Além disso, a China tem um mercado em franco crescimento e como o país não está mais focado em ampliar a produção interna, nesse mercado de US$ 60 bilhões anuais há nichos que podem ser ocupados pela indústria calçadista brasileira.
Penetrar nesse mercado é um grande desafio para o exportador brasileiro. Em seu raciocínio, José Mário Antunes traça um paralelo entre as situações da Itália e do Brasil na busca por mercados externos para sua produção de calçados: “o mercado da Itália não chega a um terço do mercado brasileiro e por isso os italianos são quase obrigados a irem além de suas fronteiras. Em contrapartida, o empresário brasileiro tem o conforto que é dispor de um grande mercado interno e acaba dependendo muito desse mercado e nem sempre busca a internacionalização”.
Mas as diferenças entre Brasil e Itália não se restringem ao tamanho dos respectivos mercados internos. Há também especificidades em matéria de estratégia de posicionamento no mercado chinês: “o que eu percebo é que o empresário italiano vai à China e procura abrir uma loja para posicionar o seu produto, a sua marca, se interessa em saber onde ele vai ser colocado. Enquanto isso, o empresário brasileiro tem como objetivo fechar um contêiner, transportar e vender. Mas se queremos posicionar uma marca é preciso ir além da venda em si. É preciso buscar um posicionamento para a marca, trabalhar a imagem do país, do produtor e do produto. Em qualidade, o calçado brasileiro não perde para nenhum país do mundo mas é imprescindível trabalhar o posicionamento da nossa marca. Essa é uma tarefa que compete ao empresário brasileiro”.
Há mais de uma ano atuando como Diretor do Escritório do InvesteSP, José Mário Antunes procura transmitir ao exportador conhecimentos preciosos e que podem ser determinantes para o sucesso nas vendas para esse gigantesco mercado.
Segundo ele, “para atingir o consumidor final na China é importantíssimo considerar a digitalização da economia chinesa. Nada menos que 20% de todo o varejo chinês é feito através do e-commerce, percentual que no Brasil gira em torno de 5% a 6%. E o varejo chinês é altamente diversificado. Além desses canais de acesso é muito importante oferecer aos chineses produtos de qualidade e com design customizados para o público chinês, que tem um gosto diferenciado do nosso. E é muito importante que o exportador brasileiro em potencial entenda os hábitos de consumo e as características específicas para que alcance uma penetração mais fácil no exigente e competitivo mercado chinês”.
José Mário Antunes chama a atenção para uma outra singularidade do mercado chinês: a importância crescente da popularização das promoções via meios eletrônicos: “as promoções e vendas ao vivo por meio das redes sociais são uma tendência cada vez mais popular na China, e essa moda veio para ficar”.
E ele adverte que “o processo de digitalização das vendas na China pode demandar um investimento alto. Uma loja numa plataforma de e-commerce famosa custa aproximadamente US$ 100 mil, mas existem alternativas mais baratas para digitalizar a operação e encurtar a distância até o consumidor final”.
Antes de concluir, o Diretor do Escritório do InvesteSP reitera um conselho que costuma repetir tanto aos empresários já presentes na China como aqueles que projetam internacionalizar suas empresas e conquistar espaços nesse imenso mercado: “o chinês não quer apenas qualidade. Ele demanda também quantidade e estabilidade na entrega. Essa é uma observação recorrente dos chineses em relação às exportações brasileiras”.
Fonte: Comex do Brasil